No mar brasileiro agitado pela COVID-19, não estamos todos no mesmo barco

Autores

  • Luís Paulo Souza e Souza Universidade Federal do Amazonas, Instituto de Saúde e Biotecnologia
  • Antônia Gonçalves de Souza Universidade Federal do Amazonas, Instituto de Saúde e Biotecnologia

DOI:

https://doi.org/10.14295/jmphc.v12.999

Palavras-chave:

Infecções por Coronavirus, SARS-CoV-2, Determinantes Sociais da Saúde, Iniquidade Social, Saúde Pública

Resumo

A pandemia da COVID-19 é a pior crise sanitária do século. Inicialmente, parecia consenso que o SARS-CoV-2 não escolhia classe, raça ou região, espalhando-se rapidamente de um corpo para o outro, contudo, as maneiras como os corpos estão dispostos no mundo variam a partir de marcadores sociais de desigualdades. No Brasil, a doença colocou em destaques importantes iniquidades já existentes, que seguiram seu curso com a pandemia (com alguns agravamentos); e, neste artigo, discutem-se algumas delas. Avaliando as medidas para contenção do vírus, ao mesmo tempo que visam proteger um determinado segmento da sociedade, deixam outros completamente desprotegidos, destacando-se os que não têm acesso à internet; desempregados; trabalhadores informais; os pretos e pardos; os de menor renda e escolaridade; os que residem no Norte e Nordeste. A pandemia no Brasil tem classe social, raça, cor e região; e, nesse mar agitado por ela, algumas pessoas estão em navios com serviços all inclusive, outras em lanchas, uma parte em barcos a remo, e outros tantos atravessando a nado. O país precisa pensar sobre qual projeto usar para enfrentamento da pandemia: seria um projeto que olha para as vulnerabilidades ou será o que segue em curso - deixando morrer uma parte da população, principalmente, a mais pobre? Além dos desafios da doença, o país ainda vivencia o impasse de ter um comandante do navio despreparado, cuja postura é claramente anticientífica e negacionista, deixando o navio à deriva. Discutir os princípios do Sistema Único de Saúde – SUS se faz importante, para garantir que sejam legitimados neste momento. A adoção de políticas públicas para superação das desigualdades é urgente, com forte participação social, possibilitando que esses grupos estejam mais fortalecidos para encararem desafios futuros; dando, no mínimo, condições mais dignas para atravessarem outros mares ou tempestades - caso sobrevivam ao mar revolto da COVID-19.

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Biografia do Autor

Luís Paulo Souza e Souza, Universidade Federal do Amazonas, Instituto de Saúde e Biotecnologia

Doutor em Saúde Pública pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Pós-Doutorado em Educação em Saúde pela Universidade do Estado do Pará (UEPA). Professor Adjunto do Curso de Graduação em Medicina do Instituto de Saúde e Biotecnologia (ISB) da Universidade Federal do Amazonas (UFAM). Brasil.

Antônia Gonçalves de Souza, Universidade Federal do Amazonas, Instituto de Saúde e Biotecnologia

Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Instituto de Saúde e Biotecnologia (ISB), Coari, AM, Brasil.

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Publicado

26-08-2020

Como Citar

1.
Souza e Souza LP, Souza AG de. No mar brasileiro agitado pela COVID-19, não estamos todos no mesmo barco. J Manag Prim Health Care [Internet]. 26º de agosto de 2020 [citado 21º de novembro de 2024];12:1-10. Disponível em: https://jmphc.com.br/jmphc/article/view/999

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