Estimativa de custo do tratamento com medicamentos antipsicóticos
comparação de gastos na prescrição de comprimidos versus formas líquidas no período de um ano
DOI:
https://doi.org/10.14295/jmphc.v12.1044Palavras-chave:
Antipsicóticos, Farmacoeconomia, Indústria FarmacêuticaResumo
Comprimidos apresentam diversas vantagens quando comparados aos medicamentos na forma líquida, como maior estabilidade da formulação, facilidade de transporte/manuseio e maior precisão da dose a ser administrada, uma vez que não dependem de medições de volume por parte do paciente ou cuidador. Já os medicamentos na forma líquida são utilizados por pacientes pediátricos e por aqueles que apresentam dificuldade de deglutição. Além disso, são muito úteis para o ajuste de doses de medicamentos psicoativos tanto no início do tratamento quanto em sua descontinuação, uma vez que a variedade de doses fixas disponíveis na forma de comprimidos não abrange as necessidades terapêuticas em determinados momentos do tratamento. Há um diferencial de preço relativamente grande entre comprimidos e seus correspondentes na forma líquida. Um estudo avaliando a economia de custos com medicamentos antibióticos prescritos a pacientes pediátricos mostrou que o tratamento com comprimidos custaria 3,4 vezes menos que o tratamento com seus correspondentes líquidos. Discute-se que a substituição da prescrição de formas líquidas por comprimidos apresentaria um grande potencial de redução de custos. O objetivo deste estudo foi estabelecer uma estimativa do custo do tratamento com medicamentos antipsicóticos no período de um ano utilizando-se comprimidos e seus correspondentes na forma líquida, de modo a se comparar os gastos gerados por paciente de acordo com a forma a ser prescrita. Foram pesquisados os preços dos antipsicóticos risperidona, haloperidol, aripiprazol, clorpromazina, levomepromazina e periciazina na forma de comprimidos e seus correspondentes na forma líquida, por meio do website de vendas de uma drogaria de rede. Calculou-se a diferença de custo entre o tratamento realizado com as diferentes formas correspondentes a partir da seleção dos produtos de menor preço. O número de comprimidos e o volume do medicamento líquido a ser administrado foram calculados com base na dose e frequência de administração, pelo período de um ano, de acordo com esquemas posológicos preconizados para cada medicamento. Para comprimidos, buscou-se o preço daqueles com a dose alvo, de acordo com a posologia utilizada na prática cotidiana para um tratamento de manutenção hipotético. Já para as formas líquidas, apenas uma dose (apresentação) estava disponível para cada medicamento. Para um tratamento com 2mg/dia de risperidona, as doses sairiam ao custo de R$0,89 (comprimidos) e R$2,68 (líquido). Para o haloperidol, um tratamento de 5mg/dia teria suas doses ao custo de R$0,56 (comprimidos) e R$1,07 (líquido). A clorpromazina na posologia de 100mg/dia custaria R$0,48 (comprimidos) e R$0,98 (líquido) por dose. Já a levomepromazina na posologia de 100mg/dia sairia a R$1,06 (comprimidos) e R$1,68 (líquido) a cada dose. A periciazina na posologia de 10mg/dia sairia ao custo de R$0,46 (comprimidos) e R$0,47 (líquido) por dose. O medicamento de custo mais elevado foi o aripiprazol, que na posologia de 15mg/dia custaria R$6,91 (comprimidos) e R$7,29 (líquido) por dose. Desta forma, observa-se que os medicamentos antipsicóticos na forma líquida são em média 77,1% mais caros que seus correspondentes na forma de comprimidos, sendo as maiores diferenças de custo para a risperidona (201,1%), clorpromazina (104,2%), haloperidol (91,1%) e levomepromazina (58,5%), e as menores para o aripiprazol (5,5%) e periciazina (2,2%). A prescrição dos medicamentos na posologia descrita acima exclusivamente na forma de comprimidos geraria uma economia de custos por paciente de R$653,35 para a risperidona, R$226,30 para a levomepromazina, R$186,15 para o haloperidol, R$182,50 para a clorpromazina, R$138,70 para o aripiprazol e R$3,65 para a periciazina para o tratamento pelo período de um ano. A média de economia gerada pela substituição da prescrição de formas líquidas por comprimidos de todos os medicamentos avaliados seria de R$231,78. Se extrapolarmos este valor para um maior número de pacientes, como por exemplo àqueles em tratamento no setor público (UBSs, ambulatórios de especialidades, hospitais e hospitais-dia), onde as aquisições envolvem a compra de uma grande quantidade de medicamentos de uma só vez, a economia dos custos com este setor seria bastante significativa. Entretanto, há alguns entraves clínicos e comerciais para a substituição da prescrição de medicamentos líquidos pelos seus correspondentes na forma de comprimidos. Pacientes pediátricos e aqueles com dificuldade de deglutição fazem uso exclusivo de medicamentos na forma líquida por razões associadas à dificuldade de administração de comprimidos. Além disso, a pequena variedade de doses disponibilizadas pela indústria farmacêutica na forma de comprimidos é uma questão bastante significativa. Esta limitação impacta principalmente nos medicamentos que atuam no sistema nervoso central, tais como os antipsicóticos, uma vez que grande parte dessas substâncias necessita de ajuste de doses tanto no início do tratamento, a fim de que o prescritor consiga chegar à dose máxima efetiva para o paciente, quanto durante a retirada da medicação, a fim de se evitar recidiva ou sintomas de abstinência com uma retirada brusca. Desta forma, a utilização de medicamentos líquidos ainda é indispensável para a obtenção de doses mais flexíveis de acordo com a necessidade do paciente. Conclui-se que a prescrição exclusiva de comprimidos geraria uma economia de gastos expressiva quando comparada à prescrição de formas líquidas, sendo mais evidente para tratamentos com risperidona, clorpromazina, haloperidol e levomepromazina. Por outro lado, a falta de variedade de doses na forma de comprimidos é um fator limitante, levando à necessidade de prescrição dos medicamentos na forma líquida, o que acaba por onerar o tratamento individual e consequentemente o sistema como um todo. Por fim, recomenda-se que a indústria farmacêutica disponibilize maior variedade de doses na forma de comprimidos baseadas em esquemas posológicos inerentes a cada medicamento.
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