Opinião de residentes sobre a aprendizagem sobre conteúdos socioantropológicos das categorias família, gênero e raça a partir do uso de metodologias ativas

Autores

  • Leonardo Carnut Universidade de Pernambuco - Campus Arcoverde
  • Afonso Luís Puig Pereira
  • Celso Zilbovicius
  • Tarsila Teixeira Vilhena Lopes
  • Lúcia Dias da Silva Guerra

DOI:

https://doi.org/10.14295/jmphc.v8i3.639

Resumo

Introdução: Os conteúdos sobre Família, Gênero e Raça são essenciais para profissionais de saúde na contemporaneidade, especialmente pela relevância que gozam nas condições reais de trabalho na Estratégia de Saúde da Família. Discutir os temas relacionados ao cotidiano familiar na contemporaneidade assim como a produção de diversidades que ensejam profundas alterações e constroem novas domesticidades são elementos que garantam uma prática devidamente qualificada para reinventar a Estratégia de Saúde da Família em um formato mais crítico e militante. Não obstante, esses conteúdos visam fomentar a crítica a noção de família nuclear burguesa e ao processo de superação do marco moderno assim como problematizar as reconfigurações que (des)constroem a ‘sensação de salubridade’ da família enquanto instituição. Além disso, duas categorias são tomadas como centrais no debate na família contemporânea: a primeira é o “gênero” e suas expressões mais frequentes no debate familiar (a posição da mulher na produção de novas domesticidades e o lugar da sexualidade na conformação de novos arranjos familiares); e, o segundo, é a “raça/cor da pele” necessária para desconstrução da suposta ideia de “democracia racial” no Brasil (com ênfase na organização/ascensão do movimento negro como unidade política/manutenção da cultura familiar assim como nas cotas raciais como elemento de mobilidade econômica das famílias). Nesse sentido, alcançar a compreensão de conteúdos tão densos, e muitas vezes tão distantes da discussão específica das profissões da saúde mais orientadas ao pensamento biomédico se torna um desafio considerável caso não se opte por metodologias que garantam a centralidade no ‘processo de aprendizagem’ dos estudantes assim como em seus repertórios culturais prévios. Objetivo: Assim, este estudo visou descrever a opinião dos residentes sobre a aprendizagem dos conteúdos sobre as categorias ‘Família’, ‘Gênero’ e ‘Raça’ a partir do uso de metodologias ativas de ensino-aprendizagem. A intenção dessa pesquisa foi traçar um diagnóstico inicial da introdução das metodologias ativas considerando a Residência Multiprofissional como cenário de pluralidade de perfis que proporciona desafios na aprendizagem desses conteúdos por congregar profissões de repertório teórico e conceitual bastante distintos. Metodologia: Para o alcance deste objetivo, desenhou-se um percurso metodológico baseado em uma pesquisa-ação, qualiquantitativa, com foco na investigação de percepção vivencial dos discentes sobre uma estratégia didática adotada. O cenário pedagógico foi o módulo de ‘Família, Gênero e Raça’, com carga horária total de 20 horas, ministrada na Residência Multiprofissional em Saúde da Família (com ênfase na Saúde da População do Campo e Quilombolas) da Universidade de Pernambuco (UPE) em outubro de 2015 e tendo dezenove (19) estudantes como sujeitos partícipes dessa atividade. Como se tratou de territórios campesinos, o atravessamento das “ruralidades” no contexto da discussão se fez fundamental e foi tratada como categoria transversal. Assim, a disciplina teve como conteúdo programático: Delimitação do conceito de família; Família, diversidade e saúde (com foco na Estratégia de Saúde da Família); Família e posição da Mulher; Família, homossexualidades e valores sociais; Família e a questão da raça/cor no Brasil. Deste conteúdo, derivou-se o Objetivo Geral (OG) da disciplina, que constituiu-se em compreender a família como núcleo social primário,  microcosmo  producente de diversidades que (re)configuram a lógica da contemporaneidade tendo as ruralidades como tema transversal e dentre os Objetivos Específicos (OE) que compunha a disciplina estavam: (1) Definir os conceitos de família utilizados na contemporaneidade e sua aplicabilidade no ambiente das diversas ruralidades encontradas no trabalho no campo; (2) Reconhecer a importância da Família como núcleo fundamental de intervenção e sua organização social como forma garantir a sua salubridade mediante os diversos arranjos possíveis no contexto das ruralidades e (3) Discutir a questão gênero e raça/cor no seio da família contemporânea, suas digressões, afirmações e conflitos levando-se em consideração o contexto das diversas ruralidades apresentadas. Ao decorrer do módulo, os residentes trabalharam estes conteúdos através de uma abordagem pedagógica mista baseada em Leituras Coletivas em Pequenos Grupos de Aprendizagem, Análise Crítica de Vídeos, Júri Pedagógico e Fishbowl. Ao final do módulo, aplicou-se um formulário como perguntas relativas ao alcance dos Objetivos Específicos acima citados como também em relação ao uso das Metodologias Ativas empregadas. As respostas eram fechadas em formato de uma Escala Likertt e ao término da coleta, os dados foram analisados através de medidas de tendência central e descritos em função de seus percentuais. Resultados: Após a análise dos dados, identificou-se que em relação à aprendizagem com uso de Leituras Coletivas 52,6% (10) residentes consideram ‘ótima’ e 47,4% (9) como ‘boa’. Já em relação à aprendizagem com uso de Análises Críticas de Vídeos 31,6% (6) consideraram ‘ótima’, 42,1% (8) consideraram ‘boa’ e 26,3% (5) consideraram a estratégia ‘regular’. Em relação ao uso do  Júri Pedagógico, 36,8% (7) consideraram ‘ótimo’, 57,9% (11) consideraram ‘bom’ e 5,3% (1) não opinaram sobre esta estratégia. Já em relação ao Fishbowl, 84,2% (16) consideraram a estratégia ‘ótima’, 10,5% (2) ‘boa’ e 5,3% (1) não opinaram sobre esta estratégia. Em relação ao alcance dos Objetivos Específicos (OE) através das metodologias ativas supracitadas, os residentes consideraram que, no Objetivo Específico 1 (OE-1), 15,8% (3) alcançaram de forma ‘ótima’ e 78,9% (15) de forma ‘boa’. No OE-2, 89,5% (17) conseguiram alcançar de forma ‘ótima’, 5,3% (1) de forma ‘boa’ e 5,3% (1) de forma ‘ruim’. Por fim, no OE-3, 5,3% (1) conseguiram alcançar de forma ‘ótima’, 47,4% (9) de forma ‘boa’ e 47,5% (9) de forma ‘regular’. Conclusões: Neste contexto conclui-se que, de uma maneira geral, os conteúdos socioantropológicos sobre Família, Gênero e Raça foram bem apreendidos pelo uso das metodologias ativas empregadas. Houve uma ênfase clara no aprendizado dos conteúdos que se relacionam ao binômio Família e Salubridade (OE-2). É possível considerar que o repertório prévio da maioria dos estudantes da residência se identificam com mais afinco a esse conteúdo dotando-o de mais sentido no processo de aprendizagem em relação àqueles relativos aos outros objetivos. Nesse sentido, parece que o emprego das  metodologias ativas, apesar de serem bem avaliadas pelos residentes, não contribuem tanto quanto se esperava na aprendizagem dos conteúdos socioantropológicos destas categorias. Lança-se como hipótese que, em virtude da herança biomédica que ainda permanece na construção pedagógica desses estudantes, as metodologias ativas empregadas parecem não serem capazes de avançar na aprendizagem desses conteúdos

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Biografia do Autor

Leonardo Carnut, Universidade de Pernambuco - Campus Arcoverde

Curso de Odontologia

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Publicado

19-09-2018

Como Citar

1.
Carnut L, Pereira ALP, Zilbovicius C, Lopes TTV, Guerra LD da S. Opinião de residentes sobre a aprendizagem sobre conteúdos socioantropológicos das categorias família, gênero e raça a partir do uso de metodologias ativas. J Manag Prim Health Care [Internet]. 19º de setembro de 2018 [citado 23º de dezembro de 2024];8(3):26-7. Disponível em: https://jmphc.com.br/jmphc/article/view/639

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