TY - JOUR AU - Oliveira, Cláudia AU - Uchoa-Figueiredo, Lucia AU - Batista, Nildo AU - Batista, Sylvia PY - 2018/09/19 Y2 - 2024/03/29 TI - A estimulação da escuta e da compreensão empática na formação interprofissional em saúde JF - JMPHC | Journal of Management & Primary Health Care | ISSN 2179-6750 JA - J Manag Prim Health Care VL - 8 IS - 3 SE - Seminários, Simpósios e Mesas Redondas DO - 10.14295/jmphc.v8i3.611 UR - https://jmphc.com.br/jmphc/article/view/611 SP - 47-48 AB - <p>A formação profissional em saúde apresenta hoje um modelo mais centrado na doença e menos na história de vida do paciente, repercutindo na despersonalização da relação de cuidar. Embora a necessidade de mudanças no processo de formação venha ganhando força, com a criação de diversos programas de incentivo a essas mudanças, existe ainda&nbsp; uma grande dissonância entre o perfil dos profissionais formados pelas instituições de ensino brasileiras e aquele que se espera para atuação no Sistema Único de Saúde (SUS), é o principal empregador nessa área (ALMEIDA_FILHO,2011). Levando-se em consideração que algumas questões no atendimento em saúde não podem ser objetivadas, existe a necessidade de se apostar em uma formação voltada para a criação de vínculo entre profissional da saúde e paciente, para a empatia, o sentimento de confiança entre ambos e maior adesão do paciente ao tratamento. É nesse contexto que o Campus Baixada Santista da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP-BS) busca romper com o modelo de formação tradicional, centrado nas disciplinas e na formação específica de&nbsp; determinado perfil, a partir de uma proposta pedagógica centrada na formação interprofissional e interdisciplinar em saúde, comprometida com um profissional que esteja apto para o trabalho em equipe (UNIFESP, 2006). Durante a graduação são desenvolvidas metodologias ativas de ensino que orientam os estudantes, desde os anos iniciais da graduação, à articulação entre teoria e prática, à aproximação entre serviços de saúde e ensino, ao trabalho em equipe e à criação de empatia com seus futuros pacientes, entre outros aspectos. Uma dessas metodologias é a produção de narrativas com estudantes do segundo ano dos seis cursos existentes: Educação Física, Fisioterapia, Nutrição, Psicologia, Serviço Social e Terapia Ocupacional. Os estudantes são orientados a construírem narrativas clínicas, em duplas interprofissionais, a partir da escuta da história de vida de moradores de regiões de maior vulnerabilidade social da cidade de Santos/SP. Essa atividade tem sido desenvolvida no Eixo Trabalho em Saúde (TS), no Módulo Prática Clínica Integrada: análise de demandas e necessidades em saúde, com o objetivo de identificar as demandas e&nbsp; necessidades de saúde desses moradores, bem como os recursos e serviços utilizados por eles para cuidar&nbsp; da saúde. A escrita de narrativas resulta de todo um processo de encontros permeados&nbsp;&nbsp; pelas subjetividades de todos os “outros” envolvidos nessa construção (serviços de saúde, colega de dupla, docentes e quaisquer outros que façam parte da atividade). Trata-se&nbsp; de&nbsp; uma atividade que tem como alicerce a habilidade de saber escutar com atenção, combinando a narrativa à contextualização e à personalização diferenciadoras da subjetividade e do posicionamento focal dos narradores, pois apoia-se na ressonância mutissensorial de todos os sentidos, na atitude fenomenológica e da interpretação. Nessa perspectiva, o presente trabalho tem como objetivo expor os efeitos da atividade de escuta&nbsp; na formação interprofissional em saúde, partindo de um recorte da dissertação de mestrado, intitulada “A formação Interprofissional em Saúde e o Processo de Produção de Narrativas: construindo caminhos de aprendizagem” (OLIVEIRA, 2014). O estudo apresenta uma experiência nova com estudantes de saúde, já na fase inicial da vida acadêmica, na qual eles são colocados em contato com a alteridade, em cenários de aprendizagem reais, por meio&nbsp;&nbsp; da articulação entre serviço de saúde e instituição formadora. A experiência mostra que a construção conjunta de narrativas de histórias de vida pode apresentar-se como uma ferramenta metodológica eficaz para a formação, na medida em que desperta o estudante para a importância de se desenvolver a escuta atenta, como elemento fundamental do encontro dialógico entre futuros profissionais e usuários dos serviços de saúde. A pesquisa foi desenvolvida segundo uma&nbsp;abordagem qualitativa. Foi aplicado um questionário de múltiplas escolhas a 146 estudantes, do 2o. ano de todos os cursos, sendo selecionados, aleatoriamente, 18 alunos para participar de uma entrevista semiestruturada, aplicada em&nbsp; três fases. As entrevistas foram gravadas, tendo autorização dos entrevistados, e transcritas. Os dados coletados foram analisados segundo a técnica de análise de&nbsp; conteúdo,&nbsp; modalidade análise temática (BARDIN, 2011). De modo geral, os estudantes entrevistados evidenciaram que o exercício da escuta atenta despertou neles o reconhecimento da necessidade de afastar-se de qualquer julgamento, avaliação, aprovação, reprovação ou críticas. De acordo com os resultados, a escuta sensível, apoiada na compreensão empática e na integração de todos os sentidos, pode (trans)formar a sensibilidade dos sujeitos envolvidos na interlocução, a partir de uma nova percepção de si e do outro. Quanto mais&nbsp; (re) conhece o outro, mais o futuro profissional passa a (re)conhecer-se em suas próprias fragilidades, com isso, ele se torna mais apto à superação de preconceitos, de paradigmas e das diferenças, além de estar mais bem preparado para a interpretação dos sinais da enfermidade. Os estudantes demonstraram maior preocupação na oferta do cuidado, pois a atividade evocou neles a responsabilização, a compaixão e a empatia pelos moradores. Estar completamente acessível ao que o outro tem a dizer, na formação em saúde, significa compreender o ser humano em um contexto mais amplo, isto é, do ponto de vista da integralidade no cuidado. A atividade de escuta ativa na graduação em saúde revela, portanto, que os estudantes podem estar mais aptos ao desenvolvimento e fortalecimento de vínculo terapêutico com seus pacientes, na medida em que se mostram mais abertos e receptivos para a oferta do cuidado integral, a partir da compreensão de fatores que extrapolam aspectos do adoecimento meramente biológico.</p> ER -